UN AÑO CON PESSOA – DÍA 5

UN AÑO CON PESSOA – DÍA 5 (17 DE JUNIO DE 2009)

1920


Fernando Pessoa – [Carta a Ophélia Queiroz – 17 Jun. 1920]

Mi bebecito:

Sólo dos palabras, porque no tengo tiempo para más; sólo quería explicarte mi ausencia.

Está organizándose una de las empresas de las que te hablé hace días. No me alcanzan las manos para todo el trabajo que me está dando. Es claro que ni en sombras me ha sido posible aparecer en Belém, y escribir, me ha sido aún más imposible.

Más allá de esto, estoy enfermo de tratar todos estos asuntos y el cansancio es aún mayor.

Solo apareceré después de mañana, o mejor el 19 en Belém, a la hora acostumbrada.

Discúlpanos a mí y al papel en que te estoy escribiendo.

Muchos besos, muchos de tu

Fernando

17/6/1920

Meu Bebezinho:

Duas palavras só, porque não tenho tempo para mais; é só para te explicar a minha ausência.

Está em organização uma das empresas de que te falei há dias. Não tenho tido mãos a medir com o trabalho que me está dando. Claro que nem por sombras me tem sido possível aparecer em Belém; e quanto a escrever, mais impossível ainda.

Alem disto, ao tratar de todos estes assuntos ando doente, de modo que o cansaço ainda é maior.

Só apareço depois de amanhã , melhor 19 em Belém à hora do costume.

Desculpa-me, e ao papel em que te estou escrevendo.

Muitos beijos, muitos do teu

Fernando

17/6/1920


17-6-1920

Cartas de Amor. Fernando Pessoa. (Organização, posfácio e notas de David Mourão Ferreira. Preâmbulo e estabelecimento do texto de Maria da Graça Queiroz.) Lisboa: Ática, 1978 (3ª ed. 1994). §28.

1929


Álvaro de Campos – Ah a frescura na face de não cumprir um dever!

¡Ah, la frescura en el rostro de no cumplir un deber!
¡Faltar es, positivamente, estar en el campo!
¡Qué refugio es que no se pueda confiar en nosotros!
Respiro mejor ahora, cuando han pasado las horas de los encuentros.
Falté a todos, con una deliberación del descuido,
Me quedé esperando a la voluntad de asistir, que sabía no llegaría.
Soy libre, contra la sociedad organizada y vestida.
Estoy desnudo, y sumergido en el agua de mi imaginación.
Es tarde ya para estar en cualquiera de los dos puntos donde estaría a esta misma hora,
Deliberadamente a la misma hora…
Está bien, me quedaré aquí soñando versos y sonriendo en itálicas.
¡Tiene tanta gracia esta parte asistente de la vida!
Ni siquiera consigo encender el cigarro siguiente… Si es un gesto,
Que se quede con los otros, que me esperan, en este desencuentro que es la vida.

Ah a frescura na face de não cumprir um dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros.
Faltei a todos, com uma deliberação do desleixo,
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
É tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora,
Deliberadamente à mesma hora…
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte… Se é um gesto,
Fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.


17-6-1929

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). §40.

Álvaro de Campos – POEMA DE CANÇÃO SOBRE A ESPERANÇA

POEMA DE CANCIÓN SOBRE LA ESPERANZA

I

Dame lirios, lirios,
y rosas también.
Pero si no tienes lirios
ni rosas para darme,
ten al menos la voluntad
de darme los lirios
y también las rosas.
Me basta con la voluntad,
que tengas, si la tuvieres,
de darme los lirios
y las rosas también,
y tendré los lirios ―
los mejores lirios ―
y las mejores rosas
sin recibir nada.
Salvo la prenda
de tu voluntad
de darme lirios
y rosas también.

II

Usas un vestido
que es un recuerdo
para mi corazón.
Otrora lo usó
alguien que quedó
en mi recuerdo sin haberla visto.

Todo en la vida
se hace de recuerdos.
se ama por memoria.
Cierta mujer nos enternece
por un gesto que recuerda a nuestra madre.
Cierta muchacha nos alegra
por hablar como nuestra hermana.
Cierta niña nos arranca de la distracción
porque amamos a una mujer que se parece a ella
cuando éramos jóvenes y no le hablábamos.
Todo es así, más o menos,
el corazón anda a los trancazos.(*)
Vivir es desencontrarse consigo mismo.
Al final de todo, si tengo sueño, dormiré.
Pero me gustaría encontrarme contigo y que hablaramos.
Estoy seguro de que simpatizaremos uno con el otro.
Pero si no nos encontramos, conservaré el momento
en que pensé que podríamos encontrarnos.
Lo guardo todo,

―guardo las cartas que me escriben,
guardo hasta las cartas que no me escriben ―
Santo Dios, la gente guarda todo aunque no quiera,
y tu vestido azul, Dios mío, ¡si pudiese yo atraerte
a través de él hacia mí!
En fin, todo puede ser…
Es tan nueva ―tan joven, como diría Ricardo Reis ―
Y mi visión de tí explota literalmente,
Y me caigo para atrás en la playa y río como un elemental (**) inferior,
, sentir cansa, y la vida es cálida cuando el sol está en lo alto.
¡Buenas noches en Australia!

POEMA DE CANÇÃO SOBRE A ESPERANÇA

I

Dá-me lírios, lírios,
E rosas também.
Mas se não tens lírios
Nem rosas a dar-me,
Tem vontade ao menos
De me dar os lírios
E também as rosas.
Basta-me a vontade,
Que tens, se a tiveres,
De me dar os lírios
E as rosas também,
E terei os lírios —
Os melhores lírios —
E as melhores rosas
Sem receber nada.
A não ser a prenda
Da tua vontade
De me dares lírios
E rosas também.

II

Usas um vestido
Que é uma lembrança
Para o meu coração.
Usou-o outrora
Alguém que me ficou
Lembrada sem vista.

Tudo na vida
Se faz por recordações.
Ama-se por memória.
Certa mulher faz-nos ternura
Por um gesto que lembra a nossa mãe.
Certa rapariga faz-nos alegria
Por falar como a nossa irmã.
Certa criança arranca-nos da desatenção
Porque amámos uma mulher parecida com ela
Quando éramos jovens e não lhe falávamos.
Tudo é assim, mais ou menos,
O coração anda aos trambulhões.
Viver é desencontrar-se consigo mesmo.
No fim de tudo, se tiver sono, dormirei.
Mas gostava de te encontrar e que falássemos.
Estou certo que simpatizaríamos um com o outro.
Mas se não nos encontrarmos, guardarei o momento
Em que pensei que nos poderíamos encontrar.
Guardo tudo,
(Guardo as cartas que me escrevem,
Guardo até as cartas que não me escrevem —
Santo Deus, a gente guarda tudo mesmo que não queira,
E o teu vestido azulinho, meu Deus, se eu te pudesse atrair
Através dele até mim!
Enfim, tudo pode ser…
És tão nova — tão jovem, como diria o Ricardo Reis —
E a minha visão de ti explode literariamente,
E deito-me para trás na praia e rio como um elemental inferior,
Arre, sentir cansa, e a vida é quente quando o sol está alto.
Boa noite na Austrália!


17-6-1929

Álvaro de Campos – Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. §106.

Fernando Pessoa – Corno nuvens pelo céu

Como nubes en el cielo
pasan los sueños por mí.
Ninguno de los sueños es mío
aunque yo así los sueñe.

Son cosas en lo alto que son
mientras la vista las conoce,
y luego son sombras que van
por el campo que desanima.

¿Símbolos? ¿Sueños? ¿Quién torna
mi corazón a lo que fui?
¿Qué dolor mío me transtorna?
¿Qué cosa inútil me duele?

Como nuvens pelo céu
Passam os sonhos por mim.
Nenhum dos sonhos é meu
Embora eu os sonhe assim.

São coisas no alto que são
Enquanto a vista as conhece,
Depois são sombras que vão
Pelo campo que arrefece.

Símbolos? Sonhos? Quem torna
Meu coração ao que foi?
Que dor de mim me transtorna?
Que coisa inútil me dói?


17-6-1932

Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990). §74.

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